[:pt]VOLUME DE TÍTULOS PRIVADOS DE RENDA FIXA CAI E AFETA RETOMADA[:en]VOLUME OF PRIVATE FIXED INCOME SECURITIES FALLS AND AFFECTS RECOVERY[:]

Depois de um início de 2018 mais animado, o volume de títulos privados no mercado de renda fixa praticamente se estabilizou em R$ 2,462 trilhões em maio, queda de 0,01% em relação a dezembro de 2017. E essa pausa nas captações atrasará a retomada da economia.

Na avaliação de especialistas consultados pelo DCI, mesmo com os juros do depósito interfinanceiro (DI) em patamares historicamente baixos (6,39% ao ano), empresas e bancos estão demandando menos recursos diante da fraqueza da atividade econômica. Em outras palavras, no caso das companhias não há muitos motivos para pegar dívida no mercado para investir; e em relação aos bancos, não existe necessidade de capital para crédito.

“É uma pausa. A incerteza e a instabilidade política levam à insegurança. O investimento via capital estrangeiro, por exemplo, parou completamente. Depois das eleições [em outubro próximo], as captações devem retomar”, acredita a sócia do escritório L.O. Baptista, Cássia Monteiro Cascione.

E na ótica dos investidores de papéis privados, também existem muitas incertezas políticas e fiscais no momento que justificam prêmios mais altos. “A janela não está boa para emissões. Está difícil colocar um papel à taxa mais baixa, a empresa tem que pagar um prêmio um pouco maior. Por muito tempo, as companhias emitiam no DI (100% da taxa DI), sem muito spread, agora, o investidor quer 110% a 115% do DI”, explica o estrategista da Levante, Rafael Bevilacqua.

Para o sócio da área de mercado de capitais do escritório TozziniFreire, Kenneth Ferreira, a pausa nas captações pode atrasar a retomada da economia. “Ninguém está pegando dinheiro novo para investimentos. Temos visto operações voltadas para aquisições [compra de participações societárias] e para rolagem de dívidas”, disse.

Na visão dele, o mercado de títulos privados está desaquecendo desde maio, sobretudo com o evento da paralisação dos caminhoneiros. “Muito nervosismo, ninguém consegue prever qual será o custo do dinheiro no mercado. Há preocupação com a eleição e a pressão no câmbio”, argumenta.

Por outro lado, Kenneth Ferreira aponta que as emissões devem reaparecer assim que houver um cenário mais definido das eleições. “Falta previsibilidade. Se teremos uma reforma da previdência, a continuidade do ajuste fiscal, ou outra realidade”, considera Kenneth.

Já para o sócio do escritório Miguel Neto Advogados, Bruno Guarnieri, as emissões, principalmente do setor do agronegócio, devem voltar com força a partir de novembro. “Todos estão esperando as eleições. O agronegócio está indo bem e até é beneficiado pela alta do dólar, enquanto os bancos estão segurando o crédito”, observou.

Os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o volume do segmento de títulos de cessão de crédito como certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) e imobiliários (CRIs) também recuou 0,02% para R$ 236,57 bilhões em maio, ante R$ 237,05 bilhões em dezembro. “Mesmo com a isenção do imposto de renda nesses papéis incentivados já ocorre uma saturação deles em private bankings e gestoras de patrimônio”, identifica Kenneth.

Os volumes em letras de crédito do agronegócio (LCAs) e imobiliário (LCIs) – emitidas por instituições financeiras – também registram desaquecimento. Nas LCAs, a queda foi de 1,86% no ano, para R$ 145,6 bilhões em maio, ante R$ 148,36 bilhões em dezembro. Nas LCIs, o estoque caiu 6,77% para R$ 170,88 bilhões em maio, em comparação com os R$ 183,3 bilhões do final do ano passado. “Não têm muitos projetos dos setores imobiliário e do agronegócio”, diz Kenneth.

Como contraponto, Cássia Monteiro Cascione pondera que o juro baixo não atrapalha novas emissões títulos incentivados (depois das eleições), que possuem isenção do imposto de renda para pessoas físicas.

“Há muita demanda dos investidores por papéis do agronegócio, imobiliários e debêntures de infraestrutura por causa do benefício fiscal”, afirmou a sócia. De fato, as debêntures incentivadas de infraestrutura (lei 12.431/2011) mantiveram crescimento até maio, com R$ 8,185 bilhões em novas emissões, ante captação de R$ 1,772 bilhão em igual período do ano passado.

 

Papéis públicos e CDBs

Nesse momento de incertezas políticas, que pode durar até o final de outubro, os investidores preferem aplicações consideradas seguras. O estoque de títulos públicos federais aumentou 2,63% até maio para R$ 3,58 trilhões, avanço superior a inflação oficial (IPCA) de 1,33% acumulada nos cinco primeiros meses do ano. A expectativa do próprio Tesouro Nacional é que até o final de 2018, o estoque da dívida pública alcance um mínimo de R$ 3,78 trilhões, conforme previsto no Plano Anual de Financiamento (PAF). Ou seja, no período de junho até dezembro haverá uma expansão mínima de R$ 200 bilhões.

“Com o mercado estressado, houve uma abertura nas taxas de médio e longo prazos e vimos nas últimas semanas investidores voltando para fundos de renda fixa”, diz o head de produtos e renda fixa da Genial Investimentos, Marcelo Sande.

Outro segmento em expansão é de certificados de depósitos bancários (CDBs), que evoluiu 3,67% para R$ 775,34 bilhões até maio. Na média, um CDB prefixado de 30 dias paga juros de 6,41% ao ano.

Entre as novidades lançadas recentemente, a Genial Investimentos formatou o Super CDB com emissão pelo Banco BMG de prazo de cinco anos, que promete pagar juro de 1% ao mês a cada 30 dias, e não no vencimento como é tradição no mercado. “O ticket de entrada é de R$ 5 mil, para o varejo”, anunciou Sande, da Genial.

Compartilhe